sexta-feira, maio 27, 2005

Algures num comboio sobre o tejo - Poema ao vento

Tu que sopras

Nas janelas do meu recato

Tu que sopras

Folhas de Outono em desalinho

Tu que sopras

Murmúrios de gente, em calado desespero

Tu, vento que sopras

quarta-feira, maio 11, 2005

O ser eterno, sem existência

Por cima, o céu

Um rasgo de negro

Repleto de pequenos nadas,

Cintilantes, de luz eterna.

Tão distante, e profunda, é a tua existência,

pequena partícula cósmica.

De onde vieste? Para onde vais?

Perguntas vazias,

tão vazias, quanto vazio é o universo.

Aqui, eu.

Pequena partícula também,

Sem brilho, sem luz, apenas o ser.

O que é já algo!

Queria ser vento, correr as planícies,

afagar o trigo, enrolar-me no sobreiro,

rebolar nas encostas do monte,

envolver-me nos teus cabelos,

carregar no meu seio, os aromas todos

dessa primavera que tarda;

Conhecerá essa migalha do universo,

todas as formas de ser?

Saberá, como são belos os campos, cá em baixo;

Como são frescos os ribeiros;

Como é quente a tarde estival;

E amena a noite.

Como canta a cotovia;

Como voa a andorinha;

Como salta o pardal;

Queria ser isso! E tudo o mais!

Queria ser terra, e mar, e céu, e mundo;

ter-te em mim;

pequeno nada;

de tudo feito, que tudo faz!

O ser eterno, sem existência.


Dedicado a uma partícula, muito especial, que me encontrou quando nada o fazia prever... são assim as partículas deste universo. Dos outros, não sei!

sábado, maio 07, 2005

Jorge Perestrelo

Começo por dizer que não sou adepto de futebol, não assisto a jogos, não comento, não participo, não me envolvo nesse mundo que, a meu ver, cada vez mais ocupa um precioso espaço de debate no nosso quotidiano português, cinzento, e agora seco. Acho isto monstruoso!
Há no entanto Homens que, pela sua grandeza e capacidade de estar vivos, conseguem transmitir-nos um tal estado de alma, que quase acreditamos, pelo menos momentâneamente, que pertencemos a um outro mundo, que temos uma outra existência, que estamos possuídos pelo seu espírito grandioso, que aquilo de que nos falam é algo de que não podemos alhear-nos, nunca.
Um desses Homens, Jorge Perestrelo, morreu hoje e deixou-me mais pobre!
Não sei se mais alguma vez conseguirei sentir o aperto de coração que senti, ao cruzar-me, por acaso, com os excertos dos seus relatos na TSF. Não sei se alguma vez mais, terei a sensação que afinal o futebol é uma coisa maravilhosa, intensa, que se pode viver e respirar, plena de emoções.
Teria de voltar a ser criança, para poder jogar à bola com os putos da minha rua.
Há Homens que não deviam nunca desaparecer!